Enxertos Ósseos com Maior Sucesso nas Técnicas de Elevação dos Seios Maxilares: Revisão da Literatura
Dr. Hiram Fischer Trindade – OMD 2764
Resumo
A reabilitação com implantes dentários na maxila posterior frequentemente enfrenta o desafio de altura óssea insuficiente devido à pneumatização do seio maxilar e reabsorção do processo alveolar. A técnica de elevação do seio maxilar, ou sinus lift, surgiu como uma solução eficaz para essa limitação anatômica. Diversos materiais têm sido empregados como enxertos ósseos, incluindo autógenos, alógenos, xenógenos e aloplásticos. Esta revisão visa analisar criticamente os tipos de enxertos com maior taxa de sucesso na elevação do seio maxilar, considerando os parâmetros de osseointegração, manutenção volumétrica e taxa de sobrevivência dos implantes. Evidências indicam que enxertos xenógenos, particularmente o osso bovino desproteinizado, apresentam excelentes resultados em termos de estabilidade a longo prazo e biocompatibilidade. A combinação com autógeno potencializa a regeneração, proporcionando osteogênese, osteoindução e osteocondução. Conclui-se que a escolha do material deve considerar a biologia óssea, o tipo de defeito e o protocolo cirúrgico adotado, sendo os xenógenos os mais bem-sucedidos em técnicas indiretas e diretas.
Palavras-chave: enxerto ósseo, sinus lift, elevação do seio maxilar, osso bovino, biomateriais, implantodontia
- Introdução
A instalação de implantes na região posterior da maxila representa um desafio devido à reabsorção óssea após exodontias e à pneumatização do seio maxilar. A técnica de elevação do seio maxilar, descrita inicialmente por Tatum em 1976 e posteriormente popularizada por Boyne e James em 1980 [1], permite o aumento da altura óssea disponível por meio do levantamento da membrana sinusal e inserção de material de enxerto.
A previsibilidade do procedimento depende de múltiplos fatores, entre os quais o tipo de material utilizado é um dos mais críticos. Enxertos ósseos podem ser classificados conforme sua origem em autógenos (do próprio paciente), alógenos (de doadores humanos), xenógenos (de outra espécie, geralmente bovina ou suína) e aloplásticos (sintéticos) [2].
Este artigo tem como objetivo revisar, com base em evidências científicas, os materiais de enxerto ósseo com melhor desempenho nas técnicas de elevação dos seios maxilares, abordando suas características, vantagens, limitações e taxas de sucesso.
- Tipos de Enxertos Ósseos Utilizados em Elevações de Seio Maxilar
2.1. Enxertos Autógenos
Considerados o padrão-ouro da regeneração óssea, os enxertos autógenos possuem potencial osteogênico, osteoindutor e osteocondutor. Podem ser obtidos de áreas intraorais (mento, ramo mandibular) ou extraorais (crista ilíaca, calota craniana) [3].
Entretanto, apresentam desvantagens como morbidade do sítio doador, aumento do tempo cirúrgico e maior reabsorção volumétrica ao longo do tempo. Estudos como o de Jensen et al. [4] relatam taxas de reabsorção superiores a 30% após 6 meses.
2.2. Enxertos Alógenos
Derivados de doadores humanos, os enxertos alógenos são processados para eliminar imunogenicidade e riscos de contaminação. Podem ser do tipo osso seco congelado ou desmineralizado.
Apesar de oferecerem boa osteocondução, a osteoindução depende do grau de processamento. Ainda assim, seu uso tem sido limitado em alguns países devido a barreiras éticas, culturais e legais [5].
2.3. Enxertos Xenógenos
Os enxertos xenógenos, especialmente os de origem bovina (como o Bio-Oss®), são amplamente utilizados em procedimentos de sinus lift. Possuem excelente biocompatibilidade e estrutura trabecular semelhante à do osso humano [6].
Apresentam lenta reabsorção, o que favorece a manutenção do volume ósseo ao longo do tempo. A literatura evidencia taxas de sucesso superiores a 95% na reabilitação com implantes sobre enxertos xenógenos em elevações sinusais [7].
2.4. Materiais Aloplásticos
Os substitutos ósseos sintéticos, como hidroxiapatita, fosfato tricálcico (β-TCP) e biovidro, possuem apenas propriedade osteocondutora. Apesar de seu custo-benefício e disponibilidade, são geralmente utilizados em associação com outros biomateriais ou fatores de crescimento [8].
- Técnicas Cirúrgicas e a Influência do Material de Enxerto
A elevação do seio maxilar pode ser realizada por abordagem lateral (direta) ou por técnica transcrestal (indireta). A escolha da técnica está diretamente relacionada à altura óssea remanescente.
Na técnica direta, com altura óssea residual inferior a 5 mm, o espaço criado pode acomodar maior quantidade de enxerto, favorecendo o uso de xenógenos ou associações com autógenos. Já na técnica indireta, com mais de 5 mm de altura óssea, muitas vezes a elevação pode ser feita sem enxerto ou apenas com xenógeno particulado [9].
Estudos randomizados controlados, como o de Wallace et al. [10], mostram que o uso de osso bovino desproteinizado na técnica direta resulta em regeneração óssea estável mesmo após 10 anos, com taxas de sucesso de implantes acima de 97%.
- Associações de Materiais e Fatores de Crescimento
A combinação de enxerto autógeno com biomateriais tem como objetivo unir as vantagens osteogênicas do primeiro à estabilidade volumétrica do segundo. Essa associação é particularmente eficaz em grandes aumentos ósseos.
Além disso, o uso de concentrados plaquetários, como PRF (fibrina rica em plaquetas), tem ganhado destaque. Esses biomateriais promovem angiogênese, aceleram a cicatrização e aumentam a qualidade do osso neoformado [11].
Testori et al. [12] demonstraram que a associação de Bio-Oss® com PRF resultou em maior densidade óssea e maturação precoce, com sucesso implantológico de 98,5%.
- Discussão
A escolha do material de enxerto deve considerar o tipo de defeito, a técnica cirúrgica empregada, o tempo de espera para a instalação dos implantes e as expectativas do paciente.
Apesar do osso autógeno oferecer vantagens biológicas superiores, sua utilização tem diminuído devido à morbidade e reabsorção. Os biomateriais xenógenos, especialmente o Bio-Oss®, têm se consolidado como a principal alternativa, com ampla evidência científica favorável.
Estudos de longo prazo confirmam sua eficácia em manter o volume ósseo e garantir a osseointegração dos implantes. A associação com PRF ou osso autógeno potencializa os resultados e deve ser considerada em casos mais complexos.
- Conclusão
A técnica de elevação do seio maxilar é fundamental para a reabilitação com implantes na maxila posterior atrófica. A escolha do material de enxerto influencia diretamente os resultados clínicos e deve ser baseada em evidências científicas.
Entre os diversos tipos, os enxertos xenógenos, em especial o osso bovino desproteinizado, demonstram maior sucesso em termos de previsibilidade, manutenção do volume e taxa de sobrevivência de implantes. A associação com autógeno e/ou fatores de crescimento potencializa os resultados em casos complexos, oferecendo ao cirurgião uma abordagem segura e eficaz.
Mais conteúdo:
Domínio das Técnicas de Elevação do Seio Maxilar na Implantologia Dentária
Inovações em Enxertos Ósseos para Implantes Dentários
Referências
- Boyne PJ, James RA. Grafting of the maxillary sinus floor with autogenous marrow and bone. J Oral Surg. 1980;38(8):613-6.
- Aghaloo TL, Moy PK. Which hard tissue augmentation techniques are the most successful in furnishing bony support for implant placement? Int J Oral Maxillofac Implants. 2007;22 Suppl:49-70.
- Chiapasco M, Casentini P, Zaniboni M. Bone augmentation procedures in implant dentistry. Int J Oral Maxillofac Implants. 2009;24 Suppl:237–259.
- Jensen OT, Shulman LB, Block MS, Iacono VJ. Report of the Sinus Consensus Conference of 1996. Int J Oral Maxillofac Implants. 1998;13 Suppl:11-45.
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- Wallace SS, Froum SJ. Effect of maxillary sinus augmentation on the survival of endosseous dental implants. A systematic review. Ann Periodontol. 2003;8(1):328–343.
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