Próteses Totais Fixas versus Prótese Totais Overdenture Vantagens e Desvantagens

Próteses Totais Fixas versus Prótese Totais Overdenture Vantagens e Desvantagens

 

 

Dissertação apresentada à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Pós-Graduado em Implantologia e Reabilitação Oral

Dra Bruna Sofia dos Santos Rebelo Gomes

A reabilitação oral dos pacientes desdentados totais é, ainda hoje, um desafio para os médicos dentistas e, devido a limitações, como a reabsorção severa do rebordo alveolar, a fragilidade dos tecidos de suporte, entre outros, há um grande insucesso na reabilita- ção com recurso a próteses totais convencionais. Com o aparecimento dos implantes osteointegrados, desenvolvidos a partir dos estudos de Bränemark, surgiram novas opções de tratamento: as próteses totais fixas sobre implantes e as próteses overdenture implan- to-retidas e muco-suportadas. A escolha entre uma ou outra forma de tratamento, assenta num diagnóstico adequado e num correto planeamento do caso. Ambas as próteses, com características próprias, apresentam vantagens em comum, tais como: a preservação óssea, um maior conforto e melhor desempenho mastigatório, bem como maior satisfação do paciente e qualidade de vida do mesmo.

Neste trabalho, é feita uma comparação entre as duas formas de tratamento, apresentando as vantagens e desvantagens de cada uma delas.

Palavras-chave: Implante; Prótese dentária; Overdenture; Prótese fixa implanto-supor- tada; Prótese total removível; Satisfação do paciente; Qualidade de vida.

In the present days, the oral rehabilitation of edentulous patients is still a challenge for dentists and due to limitations such as the severe alveolar bone reabsorption, disabilities of the denture-bearing tissues and others; there is a great failure in conventional com- plete dentures rehabilitation. With the development of osseointegration by Bränemark, new treatment options became available: the full-arch implant-supported fixed prosthesis and the implant-supported overdentures. The treatment choice is based on a correct diag- nosis and a proper case planning. Each one of them has its own features. Both have advantages in common, such as: bone preservation, greater comfort and improved mas- ticatory performance, as well as enhance patient satisfaction and quality of life.

In this work is done a comparison in relation to the both types of implant‒supported fixed prostheses and implant-supported overdenture, presenting its advantages and disadvantages.

Keywords: Implant; Dental prosthesis; Overdenture; Implant-supported fixed prosthesis; Conventional Dentures; Patient satisfaction; Quality of life.

  1. Introdução ……………………………………………………………………………………………… 12

  2. Caso Clínico…………………………………………………………………………………………… 14

  3. Discussão ……………………………………………………………………………………………… 25

  4. Conclusão……………………………………………………………………………………………… 25

  5. Bibliografia…………………………………………………………………………………………….. 28

    Figura 1. Fotografias iniciais extra-orais. (Fotografias de arquivo pessoal) ………. 14 Figura 2. Fotografias iniciais intra-orais sem a prótese inferior em boca. (Fotogra-

    fias de arquivo pessoal) ……………………………………………………………………………….. 15

    Figura 3. Fotografias intra-orais iniciais com a prótese inferior em boca. (Fotogra-

    fias de arquivo pessoal) 15/16

    Figura 4. Ortopantomografia inicial. (Fotografias de arquivo pessoal) …………….. 16

    Figura 5. Enceramento diagnóstico feito com o recurso ao duplicado da prótese total acrílica inferior já confecionada e montagem em articulador semi-ajustável

    em relação cêntrica. (Fotografias de arquivo pessoal) ……………………………………… 17

    Figura 6. Planeamento cirúrgico através do programa BlueSkyBio®. Posição do nervo alveolar inferior e colocação dos implantes, numa vista de um corte frontal na imagem

    1. Através da observação dos cortes sagitais (B, C, D e E), é possível verificar que se

      está perante um osso do tipo D2/D1. (Imagens de arquivo pessoal) 17

      Figura 7. Guia multifuncional. (Fotografia de arquivo pessoal)……………………….. 18

      Figura 8. Fotografia após extração dos dentes antero-inferiores (A); após regula- rização do rebordo ósseo (B); após sutura (C); com a prótese total colocada (D). (Fotografias de arquivo pessoal)……………………………………………………………………. 18

      Figura 9. Aspeto do rebordo alveolar inferior dois meses após as extrações dentá-

      rias. (Fotografia de arquivo pessoal) ……………………………………………………………… 18

      Figura 10. Sistema Infra da marca Signo Vinces® na imagem A e o implante usado na cirurgia na imagem B. (Imagens retiradas do site <https://www.signovinces.com. br/ common/default/catalogos/WebImplanteInfraPtV3_Mar2017.pdf.> [Consultado

      em 20/08/2018])…………………………………………………………………………………………… 19

      Figura 11. Osttell ISQ. (Imagem retirada do site <https://www.neodent.com.br/oss-

      tell-isq.> [Consultado em 20/08/2018])…………………………………………………………… 19

      Figura 12. Fotografias do ato cirúrgico. Após a sutura, o descolamento e exposi- ção da crista alveolar na imagem A. Na imagem B e C é possível observar o para- lelismo existente com os paralelizadores colocados e a confirmação através dos raios-x apicais, nas imagens D e E. Após os implantes colocados na imagem F e as respetivas radiografias apicais nas imagens G e H. Já com os cicatrizadores e a

      sutura na imagem I. (Fotografias de arquivo pessoal)……………………………………… 20

      Figura 13. Fotografias da fase protética, no dia da cirurgia. Durante a colocação do material de reabasamento soft na imagem A e a prótese finalizada na imagem

    2. (Fotografias de arquivo pessoal)……………………………………………………………….. 21

Figura 14. Sistema Kerator®. (Imagem retirada do site http://kerator.com/system/bbs / board.php?bo_table=brochure&lan=&wr_id=8?lan [Consultado em 20/08/2018]) 22

Figura 15. Fotografias do dia da colocação dos keratores. Ainda com os pilares de cicatrização na imagem A. Aspeto da gengiva após a remoção dos cicatrizadores na imagem B. Após a colocação dos retentores na imagem C. Já com as cápsulas de cor preta aplicadas para a captura dos keratores na imagem D. Prótese finali-

zada na imagem E. (Fotografias de arquivo pessoal) ………………………………………. 22

Figura 16. Substituição das cápsulas nas imagens C e D. Fotos finais com a pró-

tese colocada nas imagens C e D. (Fotografias de arquivo pessoal) ………………….. 23

Figura 17. Ortopantomografia realizada com folow-up de quatro meses e uma semana após a cirurgia. (Fotografias de arquivo pessoal) ………………………………… 24

Tabela 1. Informações sobre os implantes colocados, no dia da cirurgia. Nos índices

de ISQ, foram feitas duas medições: mesio-distal (MD) e vestibulo-lingual (VL) 21

Tabela 2. Comparação dos níveis de ISQ dos implantes entre o dia da colocação e passados três meses. Nos índices de ISQ, foram feitas duas medições: mesio-distal (MD) e vestibulo-lingual (VL) ……………………………………………………………………… 23

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

mm — milímetros fig. — figura

N — Newton Ø — diâmetro

  1. INTRODUÇÃO

    O objetivo principal da medicina dentária é devolver ao paciente a saúde biológica dos tecidos orais, a função, o conforto e a estética, quer seja pelo tratamento de cáries ou pela substituição de dentes perdidos. O que torna a Implantologia única é a habilidade de alcançar estes objetivos dependendo das doenças orais, disponibilidade óssea e dos desequilíbrios no sistema estomatognático. (Misch, 2008)

    A reabilitação oral com o uso de implantes osteointegrados deu suporte para a revolução técnica na reabilitação de pacientes parcial ou totalmente desdentados e passou a ser con- siderada a melhor opção de tratamento. (Fischer et al., 2008)

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde é definida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfer- midades”. Sabe-se que o edentulismo pode levar a um comprometimento funcional sig- nificativo, bem como a uma estética desfavorável e a alterações psicológicas nos pacien- tes. Os problemas que advêm desta situação incluem: restrições na dieta e capacidade limitada para comer certos alimentos, perda de suporte ao nível da musculatura facial e diminuição da dimensão vertical de oclusão, bem como redução da qualidade de vida. (Harris et al., 2011; Oh et al., 2014; Goodacre and Goodacre, 2017)

    Quando o médico dentista pensa numa opção de tratamento para um desdentado total, deve ter em consideração a satisfação do paciente e a significativa melhoria na sua qua- lidade de vida, bem como fazer a comparação entre os vários tipos de tratamentos pro- téticos possíveis e a sua efetividade já estudada. (Oh et al., 2014)

    Os implantes dentários apresentam-se como um meio de tratamento previsivelmente bem sucedido na reabilitação de pacientes desdentados. No entanto, uma avaliação cuidadosa, um bom diagnóstico e planeamento antes do tratamento são cruciais para garantir um bom resultado. Para tal, é necessário um exame completo dos tecidos duros e moles, uma avaliação do espaço disponível, a necessidade de suporte labial, a localização do plano oclusal e o número, posição e angulação dos implantes. A maioria dos pacientes desdentados prefere uma prótese fixa sobre implantes em vez de uma remo- vível. (Ali and Bhavani, 2014)

    Hoje em dia, existem três opções no tratamento de um paciente desdentado total: próteses acrílicas totais removíveis (convencionais), próteses totais overdenture (implanto-retidas e muco-suportadas) e próteses fixas implato-suportadas (tipo protocolo). Estas duas últimas opções de tratamentos são melhor estabelecidas, quando comparadas com as próteses convencionais. (von der Gracht et al., 2016; Kutkut et al., 2017; Oh et al., 2014)

    Entender as características mecânicas dos diferentes tipos de prótese é de extrema importân- cia no planeamento do tratamento, de forma a determinar se o comportamento da prótese, face às forças mastigatórias, atenderá às necessidades funcionais do paciente. (Michelon et al., 2017)

    As razões mais comuns das próteses totais fixas e próteses overdenture serem o trata- mento de eleição, quando comparadas com as próteses totais convencionais são: melhor retenção e estabilidade e melhor desempenho e eficiência das força mastigatórias. (von der Gracht et al., 2016)

    O protocolo original de Bränemark, descrevia uma prótese fixa que restaurava por com- pleto a arcada dentária, fixada por implantes. O objetivo seria produzir uma prótese que fosse, literalmente, ligada ao paciente, podendo ser removida se o médico dentista assim o pretendesse. Assim, a prótese sendo inseparável do paciente, seria percebida como parte do mesmo. (Batista et al., 2005b)

    Nesta prótese tipo protocolo, preconiza-se a colocação de quatro a seis implantes na região anterior da mandíbula, entre os foramens mentonianos, cujo planeamento ou dese- nho da prótese propriamente dita dependerá primariamente da quantidade de implantes no arco. Desta maneira, a fim de evitar complicações, inclusive estéticas, é de extrema importância executar um cuidadoso plano de tratamento prevendo o desenho mais ade- quado para a prótese. (Adell et al., 1981)

    A prótese tipo overdenture sobre implantes atua de forma semelhante à prótese total con- vencional, cujo suporte é predominantemente mucoso, mas a retenção e estabilização do aparelho são amplamente melhoradas através da fixação aos implantes, apresentando-se como uma prótese muco-suportada e implanto-retida. (Fragoso et al., 2004)

    A escolha entre uma prótese tipo protocolo ou uma prótese tipo overdenture está dependente de vários fatores, tais como: a quantidade e qualidade óssea, o padrão de reabsorção, o número e tamanho dos implantes, fatores estéticos, fonéticos, entre outros. (Batista et al., 2005b)

    O presente trabalho tem como objetivo demonstrar através do relato de um caso clí- nico, a reabilitação oral com uma prótese fixa overdenture na arcada inferior, des- crevendo as suas vantagens e desvantagens e fazer a comparação com as próteses fixas implanto-suportadas.

    Este trabalho foi efetuado a partir de artigos publicados nas bases de dados Pubmed, B‒on e ScienceDirect, assim como a partir de um caso clínico realizado em ambulatório e que está a seguir detalhado. Para a pesquisa bibliográfica, foi estabelecido um limite temporal entre 2010 e 2018, contudo outras publicações relevantes com datas anteriores foram consideradas. Para além disso foi também realizada uma pesquisa em livros em suporte digital considera- dos relevantes, os quais são referidos na bibliografia.

  2. CASO CLÍNICO

    Descrição

    Paciente M.C., do género feminino, com 68 anos de idade, saudável, sem hábitos tabágicos e/ou alcoólicos e com boa higiene oral. O motivo da consulta baseou-se em duas queixas principais: alguns dentes inferiores com mobilidade e descontenta- mento com a estética. Durante o exame clínico e radiográfico, verificaram-se várias ausências dentárias na arcada inferior, dentes com recessões gengivais consideráveis e alguma mobilidade (fig. 2A, 2C, 2D e 2E) e foi encontrado um resto radicular incluso referente ao dente 3.7 (fig. 4). A paciente era portadora de uma prótese acrí- lica inferior que usava há mais de vinte anos (fig. 3A, 3B, 3C e 3D). Ao nível da arcada superior, foram encontradas peças dentárias restauradas, coroas dentárias metalo-cerâmicas nos dentes 1.6 e 2.2, bem como quatro implantes colocados há cerca de dois anos (fig. 2B e 4).

     

     

     

     

     

     

    Figura 1. Fotografias iniciais extra-orais. (Fotografias de arquivo pessoal)

    A

    B

     

     

    C

    D

     

     

    E

     

    Figura 2. Fotografias iniciais intra-orais sem a prótese inferior em boca. (Fotografias de arquivo pessoal)

    A

    B

     

     

    C

    D

     

     

    Figura 3. Fotografias iniciais intra-orais com a prótese inferior em boca. (Fotografias de arquivo pessoal)

     

    Figura 4. Ortopantomografia inicial.

    Plano de Tratamento e Abordagem Cirúrgica

    Foi feito o estudo e planeamento do caso (fig. 5 e 6) e, após explicar as opções de tratamento à paciente, optou-se por uma reabilitação fixa com a colocação de quatro implantes e confeção de uma overdenture. Dada a elevada reabsorção óssea observada nos terceiro e quarto quadrantes, planeou-se a colocação dos implan- tes entre os foramens mentonianos. Para tal, foi necessário realizar a extração de todos os dentes inferiores e confecionar uma prótese total inferior acrílica pro- visória para ser usada durante o período de cicatrização. Também foi necessário fazer um desgate nos molares superiores, de forma a corrigir a curva de Spee que estava invertida (fig. 4). Foi também confecionada uma guia multifuncional para ser usada na cirurgia, usando a prótese total removível (fig. 7).

    A

    B

     

     

    C

     

    Figura 5. Enceramento diagnóstico feito com o recurso ao duplicado da prótese total acrílica inferior já con- fecionada e montagem em articulador semi-ajustável em relação cêntrica. (Fotografias de arquivo pessoal)

     

    A

    B

    C

    D

    E

     

     

     

     

    Figura 6. Planeamento cirúrgico do caso através do programa BlueSkyBio®. Posição do nervo alveolar inferior e colocação dos implantes, numa vista de um corte frontal na imagem A. Através da observação dos cortes sagitais (B, C, D e E), é possível verificar que se está perante um osso do tipo D2/D1. (Ima- gens de arquivo pessoal)

     

    Figura 7. Guia multifuncional. (Fotografia de arquivo pessoal)

    A

    B

     

     

    C

    D

     

     

    Figura 8. Fotografias obtidas após a extração dos dentes antero-inferiores (A); após regularização do rebordo ósseo (B); após sutura (C); com a prótese acrílica total colocada (D). (Fotografias de arquivo pessoal)

     

    Figura 9. Aspeto do rebordo alveolar inferior dois meses após as extrações dentárias. (Fotografia de arquivo pessoal)

    A intervenção cirúrgica implantológica realizou-se dois meses depois, onde foram colo- cados quatro implantes cone morse. Foi usado o sistema Infra da marca Signo Vinces® (fig. 10), seguindo o protocolo cirúrgico do fornecedor. Foram usados implantes com as dimensões de 4,6mm de diâmetro no colo e 13mm de comprimento (fig. 10B) Antes da cirurgia foi prescrita a seguinte medicação terapêutica: Claritromicina 500mg, Medrol® 4mg e Exxiv® 90mg. Os valores de ISQ (Implant Stability Quotient) foram medidos com o Osstell ISQ, um instrumento portátil que utiliza a técnica de análise de frequência da ressonância para medir a estabilidade dos implantes e realizar o monitoramento da osteoin- tegração (fig. 11). Como os índices de ISQ foram superiores a 65/70 e o torque acima de 35/40 N (tabela 1), foram aplicados os cicatrizadores em vez dos parafusos tampão (fig. 12I) e feito o rebasamento da prótese provisória (fig 13).

    A

    B

     

     

    Figura 10. Sistema Infra da marca Signo Vinces® na imagem A e o implante usado na cirurgia na ima- gem B. (Imagens retiradas do site <https://www.signovinces.com.br/ common/default/catalogos/WebIm- planteInfraPtV3_Mar2017.pdf.> [Consultado em 20/08/2018])

     

    Figura 11. Osttell ISQ. (Imagem retirada do site <https://www.neodent.com.br/osstell-isq.> [Consultado em 20/08/2018])

    A

    B

     

     

    C

    D

    E

     

     

     

    F

    G

    H

     

     

     

    I

     

    Figura 12. Fotografias do ato cirúrgico. Após a sutura, descolamento e exposição da crista alveolar na imagem A. Na imagem B e C é possível observar o paralelismo existente com os paralelómetros coloca- dos e a confirmação através dos raios-x apicais, nas imagens D e E. Após os implantes colocados na imagem F e as respetivas radiografias apicais nas imagens G e H. Já com os cicatrizadores e a sutura na imagem I. (Fotografias de arquivo pessoal)

    Implante colocado

    Plataforma Tipo

    Região

    Torque N

    ISQ Osstell

    Ø4,6x13mm

    Cone Morse

    3.3

    60

    MD = 80

    VL = 70

    Ø4,6x13mm

    Cone Morse

    3.1

    60

    MD = 76

    VL = 76

    Ø4,6x13mm

    Cone Morse

    4.1

    60

    MD = 85

    VL = 85

    Ø4,6x13mm

    Cone Morse

    4.4

    60

    MD = 81

    VL = 78

    Tabela 1. Informações sobre os implantes colocados, no dia da cirurgia. Nos índices de ISQ, foram fei- tas duas medições: mesio-distal (MD) e vestibulo-lingual (VL).

    A

    B

     

     

    Figura 13. Fotografias da fase protética, no dia da cirurgia. Durante a colocação do material de reaba- samento soft na imagem A e a prótese finalizada na imagem B. (Fotografias de arquivo pessoal)

    Passados três meses após o período de osteointegração, foi efetuada a captura dos loca- tores em clínica, usando o sistema Kerator® (fig. 14). Foram também medidos novamente os índices de ISQ, fazendo a comparação com os valores obtidos no dia da cirurgia (Tabela 2). De notar que os níveis de ISQ aumentaram , o que significa que foram obti- dos os resultados expectáveis ao nível do processo de remodelação óssea. Como o obje- tivo da paciente é evoluir para uma prótese híbrida, não foi confecionada uma nova pró- tese, com a respetiva malha metálica. Contudo, a paciente está avisada do maior risco de fratura que pode existir durante este período.

     

     

    Figura 14. Sistema Kerator®. (Imagem retirada do site <http://kerator.com/system/bbs /board.php?bo_ table=brochure&lan=&wr_id=8?lan> [Consultado em 20/08/2018])

    A

    B

     

     

    C

    D

     

     

    E

     

    Figura 15. Fotografias do dia da colocação dos keratores. Ainda com os pilares de cicatrização na ima- gem A. Aspeto da gengiva após a remoção dos cicatrizadores na imagem B. Após a colocação dos reten- tores na imagem C. Já com as cápsulas de cor preta aplicadas para a captura dos keratores na imagem

    D. Prótese finalizada na imagem E. (Fotografias de arquivo pessoal)

    Região do implante colocado

    ISQ Osstell no dia da cirurgia

    ISQ Osstell após três meses

    3.3

    MD = 80

    VL = 70

    MD = 87

    VL = 87

    3.1

    MD = 76

    VL = 76

    MD = 86

    VL = 86

    4.1

    MD = 85

    VL = 85

    MD = 84

    VL = 86

    4.4

    MD = 81

    VL = 78

    MD = 86

    VL = 86

    Tabela 2. Comparação dos níveis de ISQ dos implantes entre o dia da colocação e passados três meses. Nos índices de ISQ, foram feitas duas medições: mesio-distal (MD) e vestibulo-lingual (VL).

    Após um mês, as cápsulas pretas foram substitídas pelas cápsulas de cor rosa, mais retentivas.

    A

    B

     

     

    C

    D

     

     

    Figura 16. Substituição das cápsulas nas imagens C e D. Fotos finais com a prótese colocada nas ima- gens C e D. (Fotografias de arquivo pessoal)

     

    Figura 17. Ortopantomografia realizada com folow-up de quatro meses e uma semana após a cirurgia. (Fotografias de arquivo pessoal)

  3. DISCUSSÃO

    Neste caso clínico, dado as queixas estéticas da paciente, a grande reabsorção de osso alveolar nos terceiro e quarto quadrantes, devido ao uso prolongado de prótese acrílica parcial (o que impossibilitava a colocação de implantes nestas zonas) e também devido à doença periodontal existente nos dentes inferiores, foi vantajoso optar pela reabilitação através de uma prótese overdenture suportada por quatro implantes. Apenas e só devido às exigências e expectativas da paciente, se irá evoluir a médio prazo para uma prótese total fixa implanto-suportada.

    Na cirurgia realizada com sucesso, foram colocados quatro implantes. Contudo, uma prótese overdenture mandibular suportada por dois implantes, deve ser o mínimo ofere- cido a um paciente edêntulo como primeira opção de tratamento. A taxa de sobrevivên- cia dos implantes nas overdentures mandibulares é alta, independentemente do número de implantes. (Lee et al., 2012) Segundo (Sadowsky, 2001), a utilização de dois implantes é a mais indicada, podendo utilizar-se um maior número em situações selecionadas. Já para (Renouard and Ranger, 2001), o número ideal de implantes para suportar uma over- denture mandibular seria de dois ou quatro, unidos ou não, sendo que a utilização de três implantes seria considerada uma situação de risco.

    Apesar de existirem diferentes sistemas de retenções para as overdentures, que diferem entre si na sua forma e no tipo de material, neste caso foi usado o sistema Kerator®, semelhante ao conhecido sistema Locator®. O sistema de retenção ideal deve proporcionar boa retenti- vidade, fornecendo estabilidade à prótese, de tal maneira que não ocorra grande perda da sua capacidade retentiva ao longo do tempo; deve ser de fácil manutenção e baixo custo, caso haja necessidade de substituição; além de apresentar pouca altura para que possa ser utilizado em espaços intermaxilares reduzidos, favorecendo a estética. Deve, ainda, ter capacidade bio- mecânica para auxiliar na distribuição das cargas funcionais aos implantes e ao osso adja- cente. (Tabata et al., 2007)

    Em 2001, a Zest Anchors Company® lançou um dos sistemas de fixação mais popu- lares hoje em dia, designado o Sistema de attachement Locator, com um design otimi- zado, de forma a melhorar a retenção e a estabilidade que é fornecido pelos attache- ment tipo bola ou O’ring. Este sistema consiste de um componente macho e um componente fêmea, fazendo assim uma retenção dupla com diferentes valores retenti- vos. É classificado como um dispositivo de dobradiça universal resiliente e permite ângulos entre implantes até 40º, ao contrário do sistema O’ring que apenas permite uma ângulação até 20º. As próteses tipo overdenture suportadas por implantes utili- zando o sistema Locator® parecem ser uma reabilitação protética com boa retenção, principalmente na mandíbula. (Miler et al., 2017)

    Em relação às vantagens das overdentures sobre implantes em relação às próteses totais fixas sobre implantes, estão o menor custo, a necessidade de menor número de implan- tes, a facilidade de higienização (devido à possibilidade da remoção da prótese), para além de procedimentos cirúrugicos mais fáceis e uma técnica de confeção facilitada pelo uso de componentes pré-fabricados. (Scmitt and Zarb, 1998; Setz et al., 1998; Mericske-

    -Stern, 1998; Fernandes et al., 1999)

    Relativamente às vantagens das próteses totais fixas, encontram-se a maior eficiência mastigatória (em pacientes que já usaram as duas formas de tratamento) e o fato de não necessitarem de rebasamentos, o que não acontece com as overdentures, devido a estas serem uma prótese muco-suportada e implanto-retida, havendo uma parte das cargas mastigatórias a ser transmitidas diretamente ao rebordo residual, o que leva à reabsorção do mesmo, como acontece nas próteses totais removíveis. (Fernandes et al., 1999) Para além disso, apresentam maior retenção, suporte e estabilidade, trazendo benefícios psi- cológicos aos pacientes. (Novaes and de Albuquerque Seixas, 2008; Batista et al., 2005a)

    Relativamente às taxas de sobrevivência dos implantes, ambas as próteses apresentam resultados semelhantes com taxas elevadas. No que respeita à necessidade de manuten- ção, as overdentures parecem necessitar de manutenção mais simples e com menos custo, apesar de haver discordâncias neste tema. (Goodacre and Goodacre)

    A perda de retenção ou a fratura dos componentes retentivos e alguns problemas com os tecidos moles são as complicações mais citadas na utilização das overdentures, enquanto que nas próteses fixas, a fratura dos pilares e/ou dos abutments e a inflamação peri-im- plantar são as complicações mais comuns. (Hemmings et al., 1994)

    Entre as desvantagens das próteses fixas, destacam-se o maior custo e a necessidade de manutenção regular. (Batista et al., 2005b) Para além disso, também são desvantagens, a falta de apoio labial, o cantilever excessivo e a dificuldade em manter uma boa higiene oral. (Ali and Bhavani, 2014)

  4. CONCLUSÃO

    A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que, para ambos, profissional e paciente ficarem satisfeitos, o uso de critérios bem definidos, com base no diagnóstico e planea- mento reverso, associados a técnicas cirúrgicas e protéticas, torna-se possível ter previ- sibilidade e sucesso nos tratamentos de reabilitação de pacientes, e com isto, melhorar a função mastigatória, a estética e a auto-estima do paciente.

    Tanto as próteses totais fixas, como as próteses totais overdenture, são formas de trata- mento que, quando bem indicadas e executadas, promovem ao paciente um benefíco da sua função oral, bem como uma melhoria da sua qualidade de vida, quando comparadas com as próteses totais convencionais.

    Um paciente que recebe o tratamento específico desejado, tem uma maoir satisfação.

  5. BIBLIOGRAFIA

Adell R., et al. (1981). A 15-year study of osseointegrated implants in the treatment of the edentulous jaw. International Journal of Oral Surgery, 10(6), pp. 387-416.

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