Tratamentos para Combater as Periimplantites em Implantes Dentários: Uma Revisão Científica

Tratamentos para Combater as Periimplantites em Implantes Dentários: Uma Revisão Científica

Dr. Hiram Fischer Trindade – OMD 2764

Introdução

A periimplantite é uma condição inflamatória que afeta os tecidos ao redor dos implantes dentários, resultando em perda óssea progressiva e, se não tratada, pode levar à falha do implante. Esta doença é considerada uma das complicações mais graves na implantodontia e sua prevalência tem aumentado com o crescente número de implantes dentários realizados em todo o mundo. O manejo eficaz da periimplantite é um desafio clínico que requer uma abordagem multifatorial. Este artigo revisa os principais tratamentos disponíveis para combater a periimplantite, abordando desde terapias não cirúrgicas até intervenções cirúrgicas, além de discutir as perspectivas futuras nesse campo.

Etiologia e Diagnóstico da Periimplantite

Antes de discutir os tratamentos, é importante entender a etiologia da periimplantite. A doença é geralmente causada pela colonização bacteriana da superfície do implante, levando a uma resposta inflamatória crônica nos tecidos peri-implantares. Fatores predisponentes incluem higiene oral inadequada, histórico de periodontite, tabagismo, diabetes, e má qualidade ou quantidade de osso ao redor do implante (Berglundh et al., 2018).

O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento eficaz da periimplantite. Ele é feito através da avaliação clínica, que inclui a sondagem peri-implantar para detectar bolsas patológicas, além de exames radiográficos para identificar a perda óssea ao redor do implante. A detecção de sangramento ou supuração à sondagem também são sinais clínicos importantes para o diagnóstico (Renvert et al., 2018).

Tratamentos Não Cirúrgicos

Limpeza Mecânica

A limpeza mecânica das superfícies dos implantes é a primeira linha de tratamento para a periimplantite. Este tratamento visa remover a placa bacteriana e o biofilme que se acumulam na superfície do implante. Ferramentas como curetas de titânio ou carboneto de silício, dispositivos ultrassônicos e jatos de ar-abrasivo são comumente utilizados (Schwarz et al., 2018). No entanto, a eficácia do tratamento mecânico isolado é limitada devido à dificuldade de acessar todas as superfícies do implante e à natureza resistente do biofilme bacteriano.

Terapia Antimicrobiana

Para aumentar a eficácia da limpeza mecânica, o uso de agentes antimicrobianos tópicos ou sistêmicos é recomendado. Clorexidina em gel ou bochechos com clorexidina são frequentemente utilizados para reduzir a carga bacteriana ao redor do implante. Em casos mais graves, antibióticos sistêmicos, como a amoxicilina combinada com metronidazol, podem ser prescritos (Heitz-Mayfield et al., 2020). No entanto, a terapia antimicrobiana deve ser usada com cautela devido ao risco de resistência bacteriana e aos efeitos adversos associados ao uso prolongado de antibióticos.

Laserterapia

A laserterapia tem sido cada vez mais utilizada como uma modalidade complementar no tratamento da periimplantite. Lasers, como o Er, têm a capacidade de remover tecido granulado e descontaminar a superfície do implante sem danificar sua estrutura (Khouly & Karabuda, 2017). Estudos mostram que a laserterapia pode ser eficaz na redução da inflamação e na promoção da re-osseointegração, especialmente quando combinada com outras modalidades de tratamento.

Terapia Fotodinâmica

A terapia fotodinâmica (PDT) envolve o uso de um agente fotossensibilizador, que é ativado por luz laser de baixa intensidade para produzir oxigênio reativo, destruindo as bactérias presentes no biofilme (Bassetti et al., 2014). A PDT é uma abordagem minimamente invasiva e mostrou ser eficaz na redução da carga bacteriana ao redor dos implantes. No entanto, sua eficácia a longo prazo ainda está sendo estudada, e geralmente é recomendada como adjuvante à terapia mecânica.

Tratamentos Cirúrgicos

Quando a periimplantite não responde aos tratamentos não cirúrgicos ou quando há uma perda óssea significativa, a intervenção cirúrgica é necessária. O objetivo dos tratamentos cirúrgicos é acessar diretamente as áreas afetadas, remover o tecido infectado e, em muitos casos, regenerar o osso perdido.

Ressecção Óssea

A ressecção óssea envolve a remoção do tecido ósseo infectado e a regularização do osso ao redor do implante. Este procedimento visa eliminar as bolsas peri-implantares e facilitar a manutenção futura da higiene oral. Embora eficaz na eliminação do processo infeccioso, a ressecção óssea pode comprometer a estética, especialmente em áreas esteticamente sensíveis (Esposito et al., 2012).

Regeneração Óssea Guiada (ROG)

A regeneração óssea guiada é uma técnica cirúrgica que visa regenerar o osso perdido ao redor do implante, utilizando membranas barreiras associadas ou não a enxertos ósseos e/ou fatores de crescimento. A ROG tem se mostrado eficaz na recuperação da estrutura óssea ao redor de implantes comprometidos (Carvalho et al., 2020). As membranas utilizadas podem ser absorvíveis ou não absorvíveis, e o uso de biomateriais, como os enxertos de osso autógeno ou substitutos ósseos, é fundamental para o sucesso da regeneração.

Descontaminação da Superfície do Implante

Um dos desafios cirúrgicos mais significativos no tratamento da periimplantite é a descontaminação da superfície do implante. Diversas técnicas têm sido exploradas, incluindo a aplicação de lasers, jatos de ar-abrasivo com partículas de bicarbonato de sódio ou glicina, e soluções químicas, como ácido cítrico ou clorexidina (Schwarz et al., 2017). A descontaminação eficaz da superfície é essencial para promover a re-osseointegração do implante e prevenir a recorrência da infecção.

Cirurgia Plástica Peri-implantar

A cirurgia plástica peri-implantar pode ser necessária em casos onde há defeitos de tecidos moles ao redor do implante. Procedimentos como enxertos gengivais livres ou conectivos são utilizados para aumentar a quantidade de tecido queratinizado e melhorar a saúde peri-implantar (Zuhr et al., 2014). A presença de tecido queratinizado adequado é fundamental para a manutenção da higiene ao redor do implante e para a prevenção de futuras complicações.

Perspectivas Futuras

O tratamento da periimplantite continua a evoluir, com novas pesquisas focando em abordagens mais eficazes e menos invasivas. A engenharia de tecidos, por exemplo, tem o potencial de revolucionar a regeneração óssea ao redor dos implantes, utilizando células-tronco e biomateriais avançados para promover a regeneração do tecido ósseo de forma mais natural e eficaz (Rasouli et al., 2019).

Além disso, a nanotecnologia pode desempenhar um papel crucial na próxima geração de terapias para periimplantite. Implantes com superfícies nanoestruturadas que possuem propriedades antimicrobianas intrínsecas estão em desenvolvimento e podem ajudar a prevenir a colonização bacteriana e a formação de biofilme desde o início, reduzindo o risco de periimplantite (Gittens et al., 2014).

Outra área promissora é o uso de terapias imunomoduladoras, que buscam regular a resposta inflamatória ao redor dos implantes. A modulação da resposta imune pode ser crucial para prevenir a progressão da periimplantite e promover a cicatrização dos tecidos peri-implantares (Schwarz et al., 2018).

Conclusão

A periimplantite é uma complicação desafiadora que pode comprometer seriamente o sucesso dos implantes dentários. O manejo eficaz dessa condição requer uma abordagem multidisciplinar, combinando terapias não cirúrgicas e cirúrgicas conforme a gravidade do caso. As técnicas não cirúrgicas, como a limpeza mecânica, a terapia antimicrobiana e a laserterapia, são eficazes em estágios iniciais, enquanto as intervenções cirúrgicas são necessárias para casos mais avançados. O futuro do tratamento da periimplantite provavelmente incluirá avanços em nanotecnologia, engenharia de tecidos e terapias imunomoduladoras, que têm o potencial de melhorar significativamente os resultados clínicos e a longevidade dos implantes.

Referências

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