Qualidade de vida com implantes dentários

QUALIDADE DE VIDA E AUTO-ESTIMA
COM IMPLANTES DENTÁRIOS

Dra. Daniela Sofia Sobral Carreira

QUALITY OF LIFE AND SELF ESTEEM
WITH DENTAL IMPLANTS

RESUMO / SUMÁRIO
No presente trabalho pretendeu se caracterizar a Qualidade de Vida e a Auto Estima, relacioná las com a presença e ausência de dentes, difundir e alertar a todas pessoas a mais valia da dentição e, consequentemente, dos implantes dentários, a fim de premiar a saúde, não só oral como sistémica.
A extracção dentária é, na actualidade, o tratamento de “último recurso” (Teixeira, J., 2008). Porém, denota se que muitas pessoas se encontram sem grande parte dos seus dentes ou com estes em “precárias condições de higiene e conservação” (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
A ausência ou o comprometimento dentário não impõem risco de vida, mas podem conferir elevado prejuízo na qualidade de vida dessas pessoas (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
C. Misch (2006) alerta para os efeitos psicológicos do paciente parcial ou totalmente desdentado, referindo que os danos psíquicos são muito complexos e diversos, podendo variar de um grau mínimo, muito ténue, até um estado de neurose profunda.
As reabilitações por meio de implantes apresentam inúmeras vantagens em relação às convencionais, uma vez que oferecem melhores resultados estéticos, fonéticos, de função e conforto (Wael, A. e Christian, S., 2003, cit. in Neves, J. et al., 2008).
Os pacientes que recebem tratamentos com implantes manifestam maior satisfação e melhor qualidade de vida do que os pacientes que optam por tratamentos com próteses removíveis convencionais ou mesmo próteses fixas (Awad et al., 1998, cit. in Neves, J. et al., 2008).

Palavras-chave: qualidade de vida, auto estima, perda de dentes, implantes, sobredentaduras, saúde, reabilitação protética.

ABSTRACT
In the present research work, we intended to characterize the Quality of Life and the Self Esteem, associating them with the presence or absence of teeth, spread and alert all people to the surplus value of the dentition and, subsequently, dental implants, in order to reward the health, not only oral but systemic.
The dental extraction is, presently, the “last resource” treatment (Teixeira, J., 2008). Although, it shows that many people find themselves without much of their teeth or have those in “precarious conditions of hygiene and care” (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
The absence or dental impairment do not require dental life threatening, but it can give an high damage in the quality of life of those people (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
C. Misch (2006) alerts to the fact that psychological effects of the partially or totally edentulous patients, referring that the psychological damages are very complex and different, ranging from a minimal stage, very thin, to a stage of deep neurosis.
The rehabilitations through implants have several advantages over the conventional ones, as they offer better cosmetic results, phonetics, function and comfort (Wael, A. e Christian, S., 2003, cit. in Neves, J. et al., 2008).
Patients receiving treatment with implants expressed higher satisfaction and better quality of life than patients who opt for conventional treatment with removable dentures or fixed prostheses (Awad et al., 1998, cit. in Neves, J. et al., 2008).

Keywords: quality of life, self esteem, loss of teeth, implants, overdentures, health, prosthetic rehabilitation.

DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS
As normas para a elaboração de trabalhos científicos concedem ao autor, uma a duas páginas para que o mesmo possa manifestar a sua gratidão para com aqueles que contribuíram directa ou indirectamente na execução deste trabalho. Porém este capítulo é possivelmente o mais difícil de redigir, uma vez que se trata de uma tarefa ingrata na medida em que o risco de descurar alguém é elevado, contudo é uma oportunidade de reconhecimento imprescindível à qual não tencionei, em momento algum, renunciar.
O diálogo genuíno com alguns pacientes que se revelaram abatidos e menosprezados pela ausência de peças dentárias, excessivamente lesados na sua vida pessoal e profissional e ávidos por ter capacidade económica para uma reabilitação fixa com implantes esteve na origem da eleição do tema “Qualidade de Vida e Auto Estima com Implantes Dentários”.
A elaboração da revisão bibliográfica exigiu de mim bastante dedicação, por me confrontar com reduzida documentação fiável sobre o assunto. Todavia reconheço que esta minha função foi facilitada pelo auxílio do meu pai, particularmente como médico psiquiatra.
Assim sendo, o meu “muito obrigada” aos meus pais, os quais criaram todas as condições à realização do estudo; aos professores do curso de “Curso de Implantologia e Reabilitação Oral” do European Implantology Center, sobretudo ao Dr. Hiram Fisher Trindade, o qual me comunicou como adquirir mais artigos e me aconselhou a consultar um médico psiquiatra; ao meu namorado, João, e aos meus amigos por aceitarem a minha persistente ausência e me apoiarem e a todos os supracitados por insistirem em me aturar.
Por fim, pretendo dedicar todas as minhas conquistas às únicas pessoas a quem devo TUDO o que sou hoje, aos meus pais: Sois para mim um exemplo e eu ser vos ei eternamente grata.
MUITO OBRIGADA

ÍNDICE PRINCIPAL

I. INTRODUÇÃO 1
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4
1. DEFINIÇÕES E DIFERENÇAS CONCEPTUAIS DE QUALIDADE DE VIDA E AUTO-ESTIMA 4
1.1. QUALIDADE DE VIDA 4
1.2. AUTO-ESTIMA 10
2. A INDISPENSABILIDADE DA DENTIÇÃO E A IMPORTÂNCIA QUE LHE É ATRIBUÍDA 13
2.1. A INDISPENSABILIDADE DA DENTIÇÃO 13
2.2. A IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA À DENTIÇÃO 23
3. CONSEGUIR SAÚDE COM IMPLANTES DENTÁRIOS 25
III. CASO CLÍNICO 30
IV. DISCUSSÃO 32
V. CONCLUSÕES 34
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36

I. INTRODUÇÃO
A extracção dentária é, na actualidade, o tratamento de “último recurso”, uma vez que a medicina dentária tem vindo a evoluir no sentido de, mesmo que muito danificados, tratar e manter os dentes naturais em boca (Teixeira, J., 2008). Porém, apesar dos avanços tecnológicos terem resultado no aumento da longevidade das populações, modificando se as taxas de morbilidade e mortalidade, denota se que muitas pessoas desde tenra idade já se encontram sem grande parte dos seus dentes ou com estes em “precárias condições de higiene e conservação” (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
A ausência ou o comprometimento dentário não impõem risco de vida, mas podem conferir elevado prejuízo na qualidade de vida dessas pessoas; pelo que para além da procura de alívio dos sintomas clínicos e da longevidade, procura se, nos dias de hoje, o aumento da qualidade de vida e do bem estar (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
Assim, percebe se porque é que “a actual meta dos cuidados de saúde é, para a maioria das pessoas, uma vida efectiva e de manutenção do seu funcionamento e bem estar. Não só a cura e a sobrevivência são importantes, mas é o ainda mais a qualidade de vida” (Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
Os conceitos “Qualidade de Vida” e “Auto Estima” começam a ser os mais aludidos em toda a publicidade, essencialmente no que concerne à implantologia. Esta associação aparenta ser lógica e popular, porém é essencial determinar a sua sustentabilidade científica.
As pessoas desdentadas, parcial ou totalmente, relatam problemas diários, psicossociais e funcionais que interferem, indubitavelmente, na sua auto estima e qualidade de vida. A consciência desta condição dos pacientes por parte dos profissionais de saúde tem estado patente em muitos artigos, procurando se encontrar métodos capazes de a transpor.
Na literatura mais actual, a implantologia surge como a técnica médico dentária que, na presença dos requisitos ideais à sua prática, colmatou algumas lacunas das próteses parciais removíveis, como por exemplo, a instabilidade em desdentados totais com elevada reabsorção óssea.
Os implantes dentários surgem, também, como uma solução estética de excelência, em detrimento das próteses removíveis (rejeitadas muitas vezes pelos pacientes porque não pretendem “o ganchinho”, porque “a prótese mexe se na boca”, entre outras) e, quando os dentes adjacentes às perdas dentárias se encontram saudáveis, em detrimento das próteses fixas.
A escolha do tema “Qualidade de Vida e Auto Estima com Implantes Dentários” revelou se pertinente para a autora pela curiosidade que a patente associação entre a reabilitação com implantes e a saúde psíquica e emocional lhe suscitou, pela escassez de estudos análogos e porque “considera a saúde do seu doente como seu primeiro cuidado” (adaptado do Juramento de Hipócrates), atendendo à saúde no seu todo.
Este trabalho tem como principais objectivos caracterizar a Qualidade de Vida e a Auto Estima, relacioná las com a presença e ausência de dentes, difundir e alertar a todas pessoas a mais valia da dentição e, consequentemente, dos implantes dentários, a fim de premiar a saúde, não só oral como sistémica.
Tendo em conta os propósitos supracitados, o trabalho encontra se dividido em duas partes: a revisão bibliográfica e a apresentação do caso clínico. A primeira parte é, essencialmente, de índole propedêutica, encontrando-se organizada em três sub capítulos.
O primeiro é dedicado à elucidação de algumas diferenças conceptuais de “Qualidade de Vida” e de “Auto Estima”.
O segundo compreende a indispensabilidade da dentição e a importância que lhe é atribuída pela generalidade das pessoas.
No terceiro sub capítulo particulariza se a utilização dos Implantes Dentários como tratamento capaz de restituir a saúde.
A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bibliotecas da Universidade Fernando Pessoa, da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto e do Hospital Magalhães Lemos e através dos motores de busca Pubmed, Scholar.google, B-on, Scielo, Science Direct. As palavras-chave utilizadas, individualmente ou agregadas, para esta pesquisa foram: qualidade de vida, auto estima, perda de dentes, implantes, sobredentaduras, saúde e reabilitação protética. Foram adquiridos alguns livros.
O capítulo três compõe a segunda parte deste trabalho, ou seja, a apresentação do caso clínico.
No quarto capítulo é apresentada a discussão, deixando se para o quinto capítulo as conclusões deste trabalho.


II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1. DEFINIÇÕES E DIFERENÇAS CONCEPTUAIS DE QUALIDADE DE VIDA E AUTO-ESTIMA
1.1. QUALIDADE DE VIDA
Os avanços tecnológicos têm resultado no aumento da longevidade das populações, modificando se as taxas de morbilidade e mortalidade (Amorim, M. e Coelho, R., 1999), porém, numa fase inicial, presenciou se, “na busca de anos à vida”, o descuido na “necessidade de acrescentar vida aos anos” (Fleck, M. et al., 1999).
A vida que se acrescenta aos anos referenciada por Marcelo Fleck et al. (1999) é a concepção do conceito de Qualidade de Vida, mencionado desde há muitos anos em inúmeros discursos académicos, políticos, ideológicos e outros (Souza, R. e Carvalho, A., 2003).
Actualmente a máxima “Qualidade de Vida” é muito utilizada no contexto de linguagem comum, no quotidiano das pessoas, e que tem ostentado ser de extrema importância nos muitos artigos científicos das mais diversas áreas – educação, psicologia, saúde, economia, sociologia, entre outras – que estão ao alcance de todos (Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
Qualidade de Vida “faz parte da linguagem comum, dos especialistas aos leigos, de gente culta ou inculta” (Ribeiro, J., 1998).
Para Giovanni Pires et al. (1998) a “Qualidade de Vida significa muitas coisas. Diz respeito a como as pessoas vivem, sentem e compreendem o seu quotidiano. Envolve, portanto, saúde, educação, transporte, moradia, trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito e determinam como vive o mundo. Compreende desse modo, situações extremamente variadas, como anos de escolaridade, atendimento digno em casos de doenças e acidentes, conforto e pontualidade nas condições para se dirigir a diferentes locais, alimentação em quantidade suficiente e qualidade adequada e, até mesmo, posse de aparelhos electrodomésticos”.
M. Bergner et al. (1981, cit. in Nobre, M., 1995) descrevem a qualidade de vida como a “sensação íntima” de conforto, bem estar e/ou felicidade na concretização das suas funções físicas, intelectuais e psíquicas no seu seio familiar, profissional e cultural.
Rueda (1997, cit. in Souza, R. e Carvalho, A., 2003) encara a qualidade de vida como uma “condição complexa e multifactorial”, com um carácter objectivo, fomentado por alguns indicadores, e um carácter subjectivo, onde “a vivência que o sujeito – ou grupo social – pode ter de si mesmo, tem um importante peso específico”.
A qualidade de vida trata se, por conseguinte, de um “conceito ambíguo, multidimensional, individual e dinâmico”, onde a educação, a condição económica e os aspectos socioculturais estão intimamente relacionados (Neto, A. e Conde, D., 2008; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
Assim, apesar das muitas tentativas em definir qualidade de vida (perceptíveis quando se analisam as acepções enunciadas pelos diferentes autores supracitados), tem sido difícil a criação de uma definição consistente e objectiva (Neto, A. e Conde, D., 2008; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).

Apesar de não se conseguir definir qualidade de vida, existe um consenso entre autores que reside na sua multidisciplinaridade – percepções e expectativas individuais –, no seu aspecto dinâmico – variando de cultura para cultura, de indivíduo para indivíduo, no mesmo indivíduo com as suas diferentes vivências e no decorrer do tempo –, e na sua natureza subjectiva (Neto, A. e Conde, D., 2008; Lopez, J.A.F. et al., 1996, cit. in Amorim, M. e Coelho, R., 1999; Shipper, H. et al., 1990, cit. in Amorim, M. e Coelho, R., 1999; Ribeiro, J.L.P. et al., 1994, cit. in Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
O consenso supramencionado foi proposto por Allardt, em 1973, o qual sugeriu três categorias básicas, uma primeira que alberga os dados sócio demográficos e uma segunda e terceira de índole psicológica e social (cit. in Souza, R. e Carvalho, A., 2003):
• 1ª. “Having”:
Que compreende os recursos individuais de satisfação das necessidades primárias de vida e segurança;
• 2ª. ”Loving”:
Que engloba os valores afiliativos, sociais e interpessoais;
• 3ª. “Being”:
Que se refere à satisfação das necessidades de desenvolvimento do self, agregando a singularidade do sujeito como ser único no mundo.
Este autor assume a sua consonância com a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow, bem como a íntima relação entre as Necessidades Humanas Básicas (NHB) e a Qualidade de Vida (Souza, R. e Carvalho, A., 2003).
Poder se á, então, perceber que a qualidade de vida é a apreciação positiva ou negativa, subjectiva e única da adequada satisfação das necessidades humanas (Souza, R. e Carvalho, A., 2003).

Figura 2: Pirâmide de Maslow (Hierarquia das Necessidades) (Maslow, A., 2000)
Na Figura 2 pode se visualizar a Pirâmide de Maslow, assim designada por ter sido concebida pelo psicólogo Abraham Maslow.
A. Maslow (1987) concluiu que existem cinco sistemas de necessidades inatos aos seres humanos, dispostos hierarquicamente em forma de pirâmide. O nível mais baixo, ou seja, o nível que se encontra na base da pirâmide, é o primeiro a ser alcançado pelo indivíduo e a ascensão aos níveis superiores só é possível quando os inferiores tiverem sido obtidos, sem que haja comprometimento das necessidades inferiores, mais básicas e essenciais do ser humano:
• O primeiro sistema ou nível é composto pelas necessidades fisiológicas – ar, água, alimentação, temperatura corporal, excreção, abrigo, sono, evitar a dor, desejo sexual e outras;
• O segundo constitui as necessidades de segurança, onde o indivíduo procura a segurança, a protecção e a estabilidade pessoal e familiar;
• Seguidamente surgem as necessidades sociais ou de afecto e pertença, ou seja, a necessidade de amor, de amizade e de aceitação pessoal e/ou do grupo em que se insere;
• Logo que se conquista o terceiro nível, imperceptivelmente, a necessidade de auto estima é invocada. O indivíduo carece, então, de estima, de reconhecimento, de prestígio, de aprovação, de reputação e de estatuto social;
• Por último, as necessidades de auto realização, alcançada por uma percentagem muito reduzida da população, mas que A. Maslow considera que é a etapa onde a pessoa revela coerência com aquilo que é na realidade “… temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais”.
Assim, sustenta-se que a qualidade de vida poderá ser definida com base na satisfação ou não das necessidades de A. Maslow e pela apreciação que cada pessoa faz em relação a essa conquista (Souza, R. e Carvalho, A., 2003).
A unanimidade entre autores no que respeita à multidisciplinaridade, ao aspecto dinâmico e à natureza subjectiva da Qualidade de Vida, também se identifica nas seguintes definições concebidas pela Organização Mundial de Saúde:
• “é a percepção que o indivíduo tem sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações” (Organização Mundial de Saúde (OMS), 1995, cit. in The WHOQOL Group, 1995).
• “é a percepção, por parte de indivíduos ou grupos, da satisfação das suas necessidades e daquilo que não lhes é recusado nas ocasiões propícias à sua felicidade” (Organização Mundial de Saúde (OMS), cit. in Couvreur, C., 2001).
A Organização Mundial da Saúde destaca, identicamente a Maslow, cinco dimensões essenciais à apreciação da Qualidade de Vida (Souza, R. e Carvalho, A., 2003):
• 1ª. Saúde física;
• 2ª. Saúde psicológica;
• 3ª. Nível de independência (por exemplo, dependência de medicamentos e cuidados médicos);
• 4ª. Relações sociais e
• 5ª. Meio ambiente.
R. Hays et al. (1998), igualmente, atestam que a qualidade de vida é estimada diariamente pelo indivíduo, tomando em conta a sua auto avaliação, ou seja, considerando o seu grau de satisfação pessoal e profissional, de bem estar pessoal, julgando a sua situação social e económica, a sua condição clínica, entre outros (cit. in Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
Sliwiany (1997, cit. in Souza, R. e Carvalho, A., 2003) assegura que “qualquer fenómeno social deve ser considerado no âmbito do seu contexto histórico e entendido dentro da conjuntura política, económica e cultural na qual se processa, inclusive a condição de qualidade de vida”.
A. Neto e D. Conde (2008) consideram que para avaliar a qualidade de vida têm que se considerar os domínios físico, social, psicológico e espiritual. R. F. Ballesteros (1994, cit. in Amorim, M. e Coelho, R., 1999) também corrobora com A. Neto e D. Conde, uma vez que no seu entender, a qualidade de vida é uma avaliação subjectiva da satisfação ou bem estar pessoal, associada a indicadores objectivos como os biomédicos, psicológicos e comportamentais.
M. Ferreira (1995) menciona que factores como a situação sócio económica, o clima político, os factores ambientais, a habitação, a educação, o emprego, entre outros, estão inter-relacionados com o entendimento por parte do indivíduo da sua qualidade de vida.

Moacyr Nobre (1995) resume a complexidade da qualidade de vida:
“É, enfim, o que cada um de nós pode considerar como importante para viver”


1.2. AUTO-ESTIMA
A auto estima trata se de um factor psicológico crítico estreitamente relacionado com a saúde mental e/ou psicológica e com os comportamentos sociais (Mann et al., 2004, cit. in Kim, J. e Lennon, S., 2007)
J. Mosquera et al. (2006) enuncia que a auto estima é “o conjunto de atitudes que cada pessoa tem sobre si mesma, uma percepção avaliativa sobre si próprio, uma maneira de ser, segundo a qual a própria pessoa tem ideias sobre si próprio, que podem ser positivas ou negativas”.

A auto estima é a designação atribuída à avaliação individual de cada pessoa em relação a si, expressando uma atitude de aprovação ou desaprovação e denotando a credibilidade nas suas próprias capacidades e qualidades (Coopersmith, 1967, cit. in Bachman, J., 1982).
Saint Paul (1999, cit. in Duclos, G., 2006) atribui à auto estima o sentimento de segurança do indivíduo ao utilizar o livre arbítrio, bem como as suas faculdades de aprendizagem para encarar, de modo consciente e eficaz, as vivências e os desafios da vida. A auto estima é, por conseguinte, os sentimentos de competência e de valor pessoais, ou seja, a auto confiança agregada ao auto respeito (Escada, A., 2003).
W. Forney et al. (2005) consideram que a auto estima tem duas dimensões: a auto estima global e a auto estima específica. Por sua vez, G. Duclos (2006) criou outras duas grandezas, as quais tomam a designação de valor intrínseco, quando referente à auto estima adquirida à nascença e que dignifica o seu próprio “Eu” e de valor extrínseco, baseada nos seus resultados, aparência corporal e/ou social, ou seja, na sua reputação.
Assim, a auto estima é afectada pelas expectativas concebidas pelo próprio indivíduo e pelo que percepciona do seu significado para as pessoas que o rodeiam e que são importantes para si (Forney, W. et al., 2005).
Os sentimentos de segurança, confiança, auto conhecimento, competência e pertença a um grupo são condições essenciais à existência de auto estima (Duclos, G., 2006).
Então, percebe se que a auto estima não é estática, modificando com os acontecimentos sociais, emocionais e psiquíco fisiológicos e que é de assumida importância no bem estar psicológico (Mosquera, J. e Stobäus, C., 2006; Alcântara, J., 2000).
A sua natureza dinâmica e de aprendizagem contínua e não delineada, resultante das acções executadas no decorrer dos dias do indivíduo, estão na origem do seu enriquecimento (auto estima positiva) ou da sua debilidade pessoal (auto estima negativa) (Alcântara, J., 2000).
R. Baumeister et al. (2003) determinam que o valor que a pessoa dá a si própria é a auto estima. Esta, nem sempre análoga à realidade, pode ser positiva se a avaliação global de si próprio for favorável ou negativa se a avaliação for desfavorável.
A construção de uma auto estima positiva é, para Macdonald (1994, cit. in Mann, M. et al., 2004), uma tarefa que começa na infância e só termina aquando a morte.
A auto estima é, então, relevante na prevenção do desajustamento psicossocial, na evolução dos traços de personalidade, na socialização e em questões de desenvolvimento como, por exemplo, no rendimento escolar (Ito, P. et al., 2007).
São vários os factores geradores de modificações na auto estima e Leandro Quintanilha (2005) afirma que a ausência de dentes é um importante promotor da diminuição da auto estima: “Dentes tortos, estragados ou ausentes são como a cárie para a auto-estima, corroem a vontade de sorrir.”
Também no Portal de Saúde (2006) podemos ler que “ (…) os dentes estão associados a aspectos estéticos e à auto estima dos indivíduos, conferindo à face um “cartão de visita” do indivíduo no seu relacionamento social”.

Afinal é o ditado popular que o apregoa:
“No rir é que está o ganho”
e
“Rir é o melhor remédio”


2. A INDISPENSABILIDADE DA DENTIÇÃO E A IMPORTÂNCIA QUE LHE É ATRIBUÍDA
2.1. A INDISPENSABILIDADE DA DENTIÇÃO
A boca tem múltiplas funções, desde funções biológicas, como é exemplo a mastigação, às funções sociais, como o simples sorriso ou a comunicação (Rodrigues, J., 1979).
2.1.1. A MASTIGAÇÃO
“Concomitante com a perda dentária, é comprometida a função mastigatória”
(Chai, J. et al. (2006).

Figura 5: Anatomia do Crânio (desenho de Leonardo da Vinci de 1510)
A mastigação pode ser entendida como um conjunto de acções que, constituem a primeira fase do processo digestivo, captura, corte, trituração e o amassar dos alimentos, ou seja, toda a actividade de degradação mecânica dos alimentos cujos fragmentos ao serem envolvidos na saliva constituem o bolo alimentar apto a ser deglutido (Júnior, C. et al., 2008).
Chagas Júnior et al. (2008) recordam que uma boa mastigação é essencial para uma perfeita homeostasia do indivíduo, sendo muito importante para o bom funcionamento de todos os órgãos do corpo.
Em relação à ausência de algumas ou da totalidade das peças dentárias, Miguel Madeira (2008) expõe que esta lacuna altera a estrutura dos maxilares, por falta de estímulo mecânico/funcional e subsequentemente presencia se a diminuição da capacidade mastigatória.
A quantidade de saliva produzida pelas glândulas maiores diminui, bem como o número de papilas gustativas (Madeira, M., 2008), o que influencia o paladar. Os alimentos ficam “menos prazerosos de serem saboreados e a hora da refeição passa a ser um terrível martírio levando à perda do apetite” (Oliveira, M. et al., 2006).

À falta de prazer nas refeições associa se a dificuldade no acto de mastigar, uma vez que a perda parcial ou total das peças dentárias leva à diminuição da eficiência mastigatória (Medeiros, S., 2006; Hugo, F. et al., 2007).
Em consequência, os indivíduos tendem a optar por alimentos menos fibrosos e sólidos, descurando os alimentos ricos em nutrientes como os vegetais e as fibras, os nutrientes essenciais à sua saúde, e aumentando os níveis de colesterol e calorias obtidas das gorduras, o que contribui para as mais diversas patologias sistémicas (Medeiros, S., 2006; Hugo, F. et al., 2007).
Chagas Júnior et al. (2008) também determinaram que os pacientes com ausência de peças dentárias têm uma dieta pobre energeticamente, pobre em proteínas, em cálcio, em ferro, em vitamina C, e outros.
Y. Shimazaki et al. (2001, cit. in Júnior, C. et al., 2008), ao estudarem dois grupos de idosos da mesma faixa etária, que se diferenciavam entre si por possuírem ou não dentes, inferiram que os idosos edêntulos estavam em piores condições de saúde e que corriam maior risco de incapacidade física e mortalidade, o que atribuíram a uma inferior condição nutricional por menor eficiência mastigatória.
Logo, quanto maior o número de dentes presentes, mais funcional é a oclusão, melhor é a dieta do indivíduo, melhor é a saúde sistémica e, muito provavelmente, a expectativa de vida é maior (Shimazaki, Y. et al. (2001, cit. in Júnior, C. et al., 2008).

Figura 7: A Última Ceia (de Leonardo da Vinci)

2.1.2. A FONÉTICA
A importância da dentição na comunicação nem sempre é percebida pelas pessoas, essencialmente se possuírem todos os seus dentes, pois nunca sentiram dificuldade a falar. A verdade é que os dentes influenciam grandemente na fonação, sendo a sua função interceptar parcial ou na totalidade a passagem do ar (Souza, P. C. e Santos, R. S., 2003).

Figura 8: Dois ouvidos e uma boca para falar e comer…
Este vínculo está presente na designação de alguns sons como (Souza, P. C. e Santos, R. S., 2003):
• Som labiodental: som produzido pela obstrução parcial da corrente de ar entre o lábio inferior e os dentes superiores. Exemplo, os primeiros sons das palavras faca, vaca.
• Som dental ou linguodental: som produzido com a ponta da língua contra a parte de trás dos dentes superiores ou com a ponta da língua entre os dentes. Exemplo: “the”, do inglês.
Então, a indispensabilidade dos dentes está evidente também na fonação, e consequentemente na fonética, ao ser percebida a necessidade de contacto dentário com os lábios ou com a língua para a reprodução de alguns sons (Souza, P. C. e Santos, R. S., 2003).
De acordo com E. Tobey e I. Finger (1983, cit. in Troia Jr., M. et al., 2005), os pacientes desdentados adulteram alguns fonemas, em uniformidade com os pacientes que utilizam próteses removíveis totais confeccionadas negligenciando se a produção dos fonemas, pela perda da propriocepção dentária ou pelo factor fisiológico de adaptação da língua ao espaço edêntulo e, portanto, reposicionamento da mesma.


2.1.3. A ESTÉTICA
Ainda na actualidade muitas pessoas, mesmo que jovens, têm os seus dentes em “precárias condições de higiene e conservação” ou já perderam parte ou a totalidade deles (Oliveira, M. et al., 2006; Amorim, M. e Coelho, R., 1999).
Por cada perda dentária, cerca de 1 centímetro da altura de cada processo alveolar desaparece e atendendo a que cada coroa também mede 1 centímetro, então, reduz se 4 centímetros à dimensão vertical de oclusão. No desdentado total percebe se uma reabsorção mais acentuada do rebordo residual da mandíbula em relação ao da maxila, mais pronunciada em posterior do que em anterior, produzindo um arco mandibular mais amplo que restringe o arco maxilar (Madeira, M., 2008; Carr, A. et al., 2005).
Alan Carr et al. (2005) e George Zarb et al. (2003) alegam que, com a redução da dimensão vertical de oclusão, o suporte labial e/ou a altura facial diminuem, uma vez que: o sulco nasolabial se acentua, ocorre um estreitamento dos lábios e a perda do ângulo lábio dentário, ocorre uma diminuição do ângulo labial horizontal e um aumento do ângulo do filtrum. Consequentemente, estabelece se um perfil prognático sendo reveladas modificações severas nas características faciais do paciente (Carr, A. et al., 2005; Zarb, G. et al., 2003).
Também a mucosa oral sofre alterações, tornando-se mais delgada, mais estirada e de cicatrização mais difícil e, por isso, mais facilmente traumatizada (Madeira, M., 2008; Carr, A. et al., 2005).
Os distúrbios orais e dentários não constituem uma ameaça para a vida, no entanto, podem agravar e comprometer a qualidade da vida dessas pessoas (Oliveira, M. et al., 2006).
“Nesta sociedade, o sorriso tem conotações bastante significativas: anuncia bem estar, alegria, segurança, satisfação em relação a si e ao outro, boa recepção à aproximação” (Salles, V. e Telles, D., 2006).
C. Rufenacht (1998, cit. in Mondelli, J. e Francischone, A., 2007) reconhece que a solicitação de padrões de beleza e perfeição das formas e dimensões dentárias tem sobrevalorizado o indivíduo, ou seja, na actualidade, reivindica se um corpo perfeito e um sorriso harmonioso.
A estética facial insere se no que muitos autores designam de beleza e engloba os conceitos de simetria, equilíbrio e harmonia, conceitos estabelecidos pela primeira vez pelos gregos (Mondelli, J. e Francischone, A., 2007).
Maira Lauro (2005) conta que a Euclides, matemático grego, foi atribuída a origem da “razão áurea”, ao investigar “o modo mais harmonioso de [dividir um segmento de recta em média e extrema razão…]”.
A proporção áurea foi chamada de “secção áurea” por Leonardo da Vinci e tomou as designações de “secção divina” por Kepler e de “proporção divina” por Luca Pacioli (Gil, C., 2001; Lauro, M., 2005).
A “razão áurea” representa a agradável proporção entre dois segmentos ou medidas e as suas propriedades artísticas e estéticas estão representadas no “rectângulo áureo”:

Segundo Lívia Pereira e Marcio Ferreira (2008), considera se “rectângulo áureo” todo o rectângulo ABCD que ao ser retirado o quadrado ABFE dê origem ao rectângulo CDEF, semelhante ao rectângulo original.

Leonardo da Vinci empregou a razão áurea, por ele designada de divina, nas suas obras, mostrando a referida harmonia no corpo humano. São exemplo de “proporção divina”, os seguintes trabalhos do artista (Pereira, L. e Ferreira, M., 2008):
• Monalisa, ou Gioconda

• Homem Vitruviano ou Figura Vitruviana

• O Velho (possível auto retrato)

A beleza proporcionada pela razão divina, aplicada a esculturas, monumentos e figuras, também é conhecida como essencial na medicina dentária, aquando de uma qualquer reabilitação estética, desde simples restaurações a tratamentos de ortodontia ou em reabilitações com próteses removíveis ou com implantes (Pereira, L. e Ferreira, M., 2008; Mondelli, J. e Francischone, A., 2007).
Segundo José Mondelli e Ana Francischone (2007), a proporção áurea foi aludida na odontologia pela primeira vez, em 1973, por Lombardi e incrementada e melhorada, em 1978, por Levin.
Levin desenvolveu a “grade de Levin”, logo a sua designação, “para avaliação da medida da amplitude do sorriso e da porção visível dos dentes e que seria também de grande utilidade na selecção e escolha de dentes artificiais e nas reabilitações protéticas e restauradoras” (Mondelli, J. e Francischone, A., 2007).
Maira Lauro (2005) lembra, porém, que a utilização da razão divina, ou consequentemente da grade de Levin, não pode descurar a assimetria presente em todos os rostos e essencial para que se complete a beleza pretendida.
José Mondelli (2003, cit. in Mondelli, J. e Francischone, A., 2007) tem igual opinião, uma vez que, embora opine que deve haver ausência de assimetrias notórias, assume que pequenas assimetrias são indispensáveis, quando refere que “a simetria pode levar à monotonia, falta de expressão e não ser agradável como uma face com pequenas assimetrias”.
O autor salienta, ainda, que a harmonia encontrada com a razão áurea, ou com a grade de Levin, e com as pequenas assimetrias, deve ser considerada não só na face ou expressão facial mas também no sorriso, conseguindo se a perfeição exigida pela sociedade.
As considerações supracitadas devem ser utilizadas na determinação da largura dos incisivos centrais em pacientes totalmente desdentados, “para o planeamento estético restaurador e também para a reabilitação em próteses sobre implantes” (Mondelli, J. e Francischone, A., 2007). No entanto, é obrigação do médico dentista a meticulosa avaliação das exigências e expectativas do paciente a reabilitar, uma vez que a percepção de beleza e harmonia não é estática, sofrendo variações socioculturais e mesmo individuais (Mondelli, J. e Francischone, A., 2007; Pereira, L. e Ferreira, M., 2008).


2.2. A IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA À DENTIÇÃO
Os pacientes procuram o médico dentista por razões funcionais, estéticas ou cosméticas (Zarb et al., 2003).
C. Misch (2006) alerta para os efeitos psicológicos do paciente parcial ou totalmente desdentado, referindo que os danos psíquicos são muito complexos e diversos, podendo variar de um grau mínimo, muito ténue, até um estado de neurose profunda.
Também M. Oliveira et al. (2006) enunciam que os indivíduos que desfrutam de dentes em todo o seu processo de envelhecimento beneficiam de uma realidade, infelizmente pouco comum, que contribui grandemente para a recuperação da auto estima e da qualidade de vida.
Alan Carr et al. (2005) revelam que o impacto estético da perda de peças dentárias é muito mais significativo para os pacientes do que a limitação da função que lhe é associada.
Na actualidade, os dentes são fundamentais para que a pessoa se sinta bem com ela própria e para que se sinta aceite e integrada na sociedade (Alan Carr et al., 2005). Afinal, as pessoas desprovidas de algumas ou da totalidade das suas peças dentárias, essencialmente se a zona edêntula coincidir com a zona anterior da cavidade oral, experimentam a descriminação resultante do estigma social muito elevado (Alan Carr et al., 2005).
As pessoas desdentadas total ou parcialmente reconhecem a rejeição social da sociedade moderna nas mais diversas vivências, como por exemplo, em relação à integração num grupo, à obtenção de emprego no mercado de trabalho ou outros. Estas pessoas são classificadas como “mutilados bucais” (Manetta, C. et al., 1998b).
Ainda, D. Roessler (2003), referindo se a pacientes desdentados e a pacientes desdentados totais com reabilitação protética removível, denota que às questões fisiológicas e psicológicas se agregam os problemas emocionais e sociais em ocasiões tão vulgares como a hora da refeição, pelo constrangimento de comer em público temendo a repulsa por parte dos demais.
No artigo de Vecchia, M. (2009) pode se ler que Locker referiu que “a doença bucal leva a debilitação, que é comummente avaliada por indicadores clínicos, podendo resultar em limitações funcionais e desconforto e estes, por sua vez, podem causar incapacidades ou desvantagens de ordem física, psicológica e/ou social”, realçando a problemática acima descrita.
S. Reisine (1985), no seu estudo, concluiu que problemas dentários agudos podem apresentar um impacto no paciente similar a condições como neoplasias e acidentes vasculares cerebrais (sem tomar em consideração a severidade da patologia).
A mais valia da dentição é, por conseguinte, percebida por muitos autores como Manetta et al. (1998a), os quais ressaltam que um sorriso bonito e saudável é de extrema importância para os relacionamentos e consequentemente para o próprio indivíduo. Estes autores atribuem ao tratamento protético adequado, a recuperação da função, da fonética e da estética, devolvendo se ao indivíduo a felicidade, a auto estima e a saúde como um todo.


3. CONSEGUIR SAÚDE COM IMPLANTES DENTÁRIOS
“Se nem sempre temos a possibilidade de agir sobre o factor que quebra o nosso equilíbrio é necessário que encontremos um meio para nos adaptarmos a essa situação. Felizmente, por vezes, temos a possibilidade de agir, de uma forma fundamental, sobre o factor que destrói a nossa Qualidade de Vida” (Couvreur, C., 2001).
A perda de elementos dentários é, das várias alterações passíveis de ocorrer na cavidade oral, aquela que compromete em maior grau os demais órgãos do corpo humano (Medeiros, S. e Montenegro, F., 2008).
A reabilitação protética visa restabelecer o bem estar físico, mental e social, através da substituição de um ou mais dentes e/ou tecido de protecção e sustentação ausentes. O objectivo é, portanto, restaurar o equilíbrio neuromuscular e do sistema estomatognático, possibilitando o desempenho e a manutenção das suas funções (Vervoorn, J. et al., 1991).
As duas maiores razões para a procura de reabilitação protética por parte dos indivíduos são o aperfeiçoamento estético e funcional. Muitas vezes, aliás como já fora referido anteriormente, é, para o paciente, mais importante a estética (que resulta em motivação para o tratamento), do que a própria função, pelo que os pacientes procuram o médico dentista quando, essencialmente, a falta de peças dentárias se localiza de pré molar a pré molar (Roessler, D., 2003).
Por este motivo, A. Carr et al. (2005) escreveram que “Restaurar a estética facial de forma a manter uma aparência apropriada pode constituir um desafio e é um factor prioritário na restauração e na tomada de decisões para variados tratamentos protéticos”.
No entanto, R. Pocztaruc et al. (2006) consideram que o médico dentista, aquando da reabilitação, deve ter em conta as preocupações estéticas do paciente, mas não pode negligenciar a mastigação, o discurso e a ausência de desconforto e dor.
A. Carr et al. (2005) enumeram alguns objectivos do tratamento protético:
• Eliminação da doença;
• Preservação, restauração e manutenção da saúde dos dentes remanescentes e dos tecidos bucais;
• Substituição dos dentes perdidos e
• Restituição da função de uma forma esteticamente agradável.
A primeira consulta é, possivelmente, a mais importante de todo o tratamento e o profissional deve ter isso em conta. Portanto, o médico dentista tem que assumir a necessidade de gastar mais tempo para a mesma e, assim, conseguir estabelecer um melhor prognóstico e melhores resultados. O diagnóstico deverá avaliar as características psicológicas e as expectativas do paciente, bem como, incidir na exploração oral propriamente dita (Plasencia, J., 1988; Jonhson, D. L. e Stratton, R. J., 1988).
É a partir do conhecimento das características psicológicas do paciente que o médico dentista consegue determinar se há motivação para o tratamento (Plasencia, J., 1988).
Também é na primeira consulta que se prevê o êxito do tratamento de um paciente desdentado, uma vez que o sucesso da reabilitação protética depende, não só do médico dentista, mas também do próprio paciente (Plasencia, J., 1988).
Sobretudo, é nesta consulta que se avalia qual o tratamento restaurador dos espaços edêntulos é o ideal, na medida em que, na actualidade, além das próteses removíveis convencionais, existem as próteses fixas, as overdentures implanto suportadas removíveis, as implanto suportadas e as muco implanto suportadas (Neves, J. et al., 2008).
M. A. Awad e J. S. Feine (1998, cit. in Neves, J. et al., 2008) relatam que grande maioria dos pacientes reabilitados com próteses convencionais removíveis está desagradada com as mesmas apontando a sua insatisfação para a retenção e estabilidade precárias (que tendem a diminuir com o aumento da reabsorção óssea) e para o desconforto ou para a dor acentuada nos tecidos de suporte.
Hiram Trindade (2010) anuncia que as próteses removíveis, nos dias de hoje, fazem “parte do passado”, evidenciando que estas já não são a “única alternativa de tratamento”.
Para o autor, a grande evolução das últimas décadas na medicina dentária e o aparecimento dos implantes dentários, proporcionaram aos pacientes a recuperação do prazer e da estética dos dentes naturais (Trindade, H., 2010).
A. Wael e S. Christian (2003, cit. in Neves, J. et al., 2008) afirmam que as reabilitações por meio de implantes apresentam inúmeras vantagens em relação às convencionais, uma vez que oferecem melhores resultados estéticos, fonéticos, de função e conforto, podendo mesmo cessar a reabsorção óssea resultante de exodontias dentárias, preservando o osso residual e mantendo o osso basal e alveolar (altura e largura ósseas) dos dentes remanescentes.
Também M. Vecchia (2009) concorda que o tratamento com implantes em pacientes desdentados consegue atenuar algumas limitações das próteses convencionais perceptíveis pelo paciente, como a dificuldade em mastigar alimentos firmes ou o desconforto psicológico.
Na literatura, os implantes dentários estão reconhecidos como uma excelente opção reabilitadora de espaços edêntulos pela sua condição conservadora dos dentes vizinhos (o que não ocorre na prótese fixa convencional), por ser uma técnica pouco invasiva e por ser possível o prognóstico quase assertivo (Rabelo, V. et al., 2009).
De acordo com G. Alves (2007, cit. in Faè, J. et al., 2009), os implantes possuem inúmeras vantagens em relação aos tratamentos restauradores dos espaços sem dentes convencionais, como, por exemplo, a durabilidade (também referenciada pelo IBI (2009), no mesmo artigo, quando denuncia que todos os implantes, colocados em boca, que não se perderem nos primeiros dois anos, durarão toda a vida), a praticabilidade (aquando da mastigação ou da conversação), o maior conforto, a maior segurança e eficiência, a melhor capacidade de fonação e a melhoria estética (a mais solicitada pelos pacientes).
S. Palla (2000) assume, de igual forma, que os implantes melhoram significativamente o conforto e a eficácia da função mastigatória.
Este autor recorda que a melhoria da função mastigatória se deve ao incitamento da estabilidade mecânica, assim como da retenção e, provavelmente, também à maior força mastigatória exercida na reabilitação sobre implantes. Em subsequência à melhoria da retenção, obtém se uma melhor função da língua e da musculatura perioral e, portanto, uma melhor manipulação dos alimentos durante a mastigação (Palla, S., 2000).
Segundo Jacobs et al. (1992, cit. in Medeiros, S. e Montenegro, F., 2008), a estabilidade e a retenção conseguida com os implantes permite, além da maior capacidade mastigatória, uma melhoria significativa da fonética, aumentando a confiança para falar por parte dos pacientes.
E. Vedonato e I. Chilvarquer (2001) afirmam que apenas a prótese sobre implantes agrupa as condições essenciais para repor os volumes teciduais perdidos com o passar dos anos e assim restabelecer as correctas relações entre o lábio, a linha nasogeniana e a base do nariz proporcionando a estética de rejuvenescimento procurada pela maioria dos pacientes.
Para Sheyla Medeiros (2006) as próteses implanto suportadas podem, ainda, prevenir a perda de auto estima e combater o isolamento social, causados pela ausência de dentes ou pela péssima condição destes, não permitindo ao indivíduo desfrutar de uma boa qualidade de vida física, social e psicológica.
Por conseguinte, os pacientes que recebem tratamentos com implantes manifestam maior satisfação e melhor qualidade de vida do que os pacientes que optam por tratamentos com próteses removíveis convencionais ou mesmo próteses fixas (Awad et al., 1998, cit. in Neves, J. et al., 2008).
Löe Holm Pedersen (1996, cit. in Medeiros, S. e Montenegro, F., 2008), refere três indicações, de igual forma que A. Carr et al. (2005) com os supracitados objectivos do tratamento protético, para a utilização de implantes osteointegrados:
• Aumentar o conforto mastigatório dos pacientes;
• Preservar os dentes naturais e
• Repor os dentes perdidos, estrategicamente importantes para a estética e a fonética.
Reher e Coelho (2004, cit. in Medeiros, S. e Montenegro, F., 2008) relembram, porém, que apesar dos implantes poderem ser utilizados tanto em jovens como em idosos, que apesar de terem todas as vantagens supramencionadas e outras, também existem contra indicações relativas e absolutas, e que, sobretudo, o médico dentista deve ponderar sempre as necessidades e características individuais de cada paciente, evitando o risco de propor tratamentos padronizados e não particularizados para cada paciente.
J. B. Neves (2001, cit. in Neves, J. et al., 2008) alerta o médico dentista que o tratamento com implantes, apesar das suas vantagens, só é um tratamento de sucesso se o profissional orientar, motivar e consciencializar o paciente que o implante é inserido na cavidade oral e, como tal, o futuro deste tratamento dependerá da sua “responsabilidade durante a manutenção domiciliar”.


III. CASO CLÍNICO
(cedido pelo seu médico psiquiatra)
Paciente do sexo masculino, 53 anos, casado, professor de biologia do ensino secundário:
“Iniciou tratamento psiquiátrico em Abril de 2008, com o diagnóstico de Perturbação de Adaptação, com alterações da afectividade e do comportamento. Apesar do tratamento (encontra se medicado com escitalopram e clobazam) continua deprimido, com labilidade emocional, ansiedade, sintomatologia fóbica, insónia, adinamia, dificuldades de concentração, intolerância ao ruído, irritabilidade fácil…, na sequência de problemas graves de saúde, que obrigam a tratamentos pela especialidade de Medicina Dentária e que implicaram uma intervenção cirúrgica difícil realizada a 31/10/2007 de que resultou alteração da sensibilidade da cavidade oral, perda completa da dentição e sobretudo perturbação da dicção com implicações na sua capacidade de comunicar no seu dia a dia e seguramente impeditivas para o desempenho das suas funções docentes. (…)”
(…)
“(…) Retomou o tratamento em 10/08/2009, por reagravamento da sua situação clínica, com predomínio de humor depressivo e ideias de morte, associados a labilidade emocional, (…), dificuldades de concentração, irritabilidade fácil, sentimentos de incapacidade e desesperança, na sequência da inadaptação a uma prótese dentária que surgiram em continuidade aos tratamentos (…) Rompeu com regras sociais básicas, nomeadamente a nível familiar, resultando em problemas familiares graves, de difícil resolução.
Foi medicado com Duloxetina, Cetazolam e Zolpidem. (…)”
(…)
“(…) Foi submetido a tratamento com implantes em Janeiro de 2010 (em seguimento da inadaptação a uma prótese dentária que surgiu em continuidade aos tratamentos pela especialidade de Medicina Dentária e que implicaram uma intervenção cirúrgica difícil realizada a 31/10/2007 de que resultou alteração da sensibilidade da cavidade oral, perda completa da dentição e sobretudo perturbação da dicção com implicações na sua capacidade de comunicar no seu dia a dia) o que declarou grande relevância terapêutica.
É actualmente acompanhado em Consulta Externa de Psiquiatria com periodicidade bianual, apresentando melhorias significativas na sua situação clínica. (…)”


IV. DISCUSSÃO
Muitas pessoas, com a perda de algumas ou da totalidade das suas peças dentárias, procuram o médico dentista na tentativa de restabelecer a sua estética, essencialmente, e a sua função (Mondelli, J. e Francischone, A., 2007).
Ausências dentárias, sobretudo na região anterior da maxila, exibem uma enorme influência cultural, pelo que para além de lesar severamente a estética facial, pode transformar o comportamento psicológico e social do paciente (Zielak, J. et al., 2009).
Na actualidade assistimos à reivindicação de um corpo perfeito e de um sorriso harmonioso (Rufenacht, C., 1998, cit. in Mondelli, J. e Francischone, A., 2007), pelo que todos nós estamos constantemente a ser bombardeados por propagandas através do rádio, da televisão, de revistas e jornais e de panfletos, que publicitam tratamentos milagrosos causadores de falsas expectativas (Zielak, J. et al., 2009).
De facto, a existência de espaços desdentados conduz o indivíduo ao isolamento, à inactividade pessoal e social, à perda da auto estima e, consequentemente, à depressão (Medeiros, S. e Montenegro, F., 2008).
E também é certo que os implantes dentários surgiram como alternativa para o tratamento do edentulismo conseguindo superar muitas das limitações dos tratamentos até aqui proporcionados (Semina, 2007, cit in. Faè, J. et al., 2009), como a função, o conforto e a estética (Bottino e Todescan, 2004; Magini, 2004, cit in. Faè, J. et al., 2009).
Por conseguinte, se o indivíduo adquirir uma expectativa realista será um paciente mais colaborador e activo no tratamento (Sendyk e Sendyk, 2004, cit in. Faè, J. et al., 2009) e, conseguirá, certamente, usufruir das regalias dos implantes dentários, ou seja, do alívio da dor, do restabelecimento da função estética, fonética e mastigatória, do alívio da ansiedade, da sua aprovação social e da recuperação do seu autoconceito (Marques, 2000, cit in. Faè, J. et al., 2009).

O Caso Clínico apresentado:
A partir do caso clínico apresentado no capítulo anterior (gentilmente cedido pelo médico psiquiatra acompanha o paciente) podemos perceber a concordância deste caso com a realidade apresentada pelos distintos autores supracitados:
Moacyr Nobre (1995) disse que qualidade de vida “É, enfim, o que cada um de nós pode considerar como importante para viver” e o paciente do caso mostra incontestavelmente que não apresenta qualidade de vida desde que as lesões da cavidade oral o impediram de viver o seu dia a dia como até outrora;
E. Tobey e I. Finger (1983, cit. in Troia Jr., M. et al., 2005) referem que os pacientes desdentados adulteram alguns fonemas, em uniformidade com os pacientes que utilizam próteses removíveis totais confeccionadas negligenciando se a produção dos fonemas, pela perda da propriocepção dentária ou pelo factor fisiológico de adaptação da língua ao espaço edêntulo e, portanto, reposicionamento da mesma. Os “sentimentos de incapacidade e desesperança” que caracterizam o paciente podem ser consequência da sua dificuldade em falar/comunicar, situação enfatizada para ele por ser docente e lhe ser exigido boa capacidade de comunicação.
Hiram Trindade (2010) referiu que “as pessoas que sorriem com restrições para não mostrar os defeitos que têm nos dentes transmitem uma imagem de fechadas e até antipáticas, muitas vezes com consequências na diminuição da auto estima e até processos depressivos”. O caso clínico atesta as palavras de Hiram, quando se lê “predomínio de humor depressivo e ideias de morte”.
Awad et al. (1998, cit. in Neves, J. et al., 2008) anunciaram que os pacientes que recebem tratamentos com implantes manifestam maior satisfação e melhor qualidade de vida do que os pacientes que optam por tratamentos com próteses removíveis convencionais ou mesmo próteses fixas. Apesar da desadaptação às próteses removíveis variar entre indivíduos parece perceptível a melhoria do quadro clínico do paciente assim que foi reabilitado com implantes dentários.

V. CONCLUSÕES
Qualidade de vida e Auto Estima são conceitos referidos por todas as pessoas, desde os leigos aos especialistas, como um importante objectivo de vida.
Na prática clínica da maioria dos profissionais de saúde, essencialmente dos médicos dentistas, é comum assistir se ao sentimento de inferioridade e mágoa consequente da perda de algumas peças dentárias.
Alguns pacientes referem grande incapacidade de socializar e mesmo de conseguir emprego por ausência de dentes ou pelo comprometimento estético dos mesmos. Outros pacientes, reabilitados com próteses removíveis, assumem ter vergonha de rir, falar ou comer em público por sentirem instabilidade da prótese: “ quando estou a falar parece que a placa me salta da boca”; “A prótese move se quando estou a comer e vê se”.
Felizmente, com o progresso da medicina dentária surgiram os implantes, capazes, na maioria dos casos, de ultrapassar alguma das limitações das reabilitações convencionais e assim proporcionar, seguramente, aos pacientes desdentados parcial ou totalmente, maior auto estima e qualidade de vida.
A publicidade dos dias de hoje salienta isto mesmo, elevando significativamente as expectativas dos pacientes, por vezes a níveis irreais / ilusórios.
Apesar da reabilitação com implantes dentários ser de “primeira escolha” é ainda um tratamento de elevado custo para grande maioria da população. Mas quanto deverá custar a nossa qualidade de vida?
No entanto, recomenda se que o médico dentista tome em atenção as necessidades dos seus pacientes, individualizadamente, avalie os prós e contras de todas as possibilidades de reabilitação e, como é sua obrigação, ofereça sempre o melhor tratamento possível.
Ainda que o tema seja, em parte, subjectivo foi possível alcançar os propósitos considerados, dos quais se salienta a intenção de difundir o tema entre os profissionais que exercem medicina dentária, de modo a contribuir para a melhoria dos cuidados de medicina dentária prestados aos indivíduos e servir de impulso a futuros trabalhos de investigação sobre o tema.

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